Assunção Cristas: uma mulher de fibra
Hoje o Clube
dos Pensadores atingiu um patamar muito elevado na sua atividade cívica com o
debate que Joaquim Jorge moderou com a Ministra da Agricultura, Mar, Ambiente e
Ordenamento do Território, Assunção Cristas, Professora universitária Doutorada
em Direito. Confesso que nutria uma admiração por esta mulher inteligente e
decidida desde que se mostrou em grande plano num célebre programa Prós e
Contras e nas suas eloquentes e escorreitas intervenções como Deputada na
anterior legislatura em debates intensos com Sócrates e seus ministros. Mais
fiquei a admirar ter aceitado não um, mas 3 ministérios complexos, num campo
fértil para trucidar qualquer Ministro e a sua postura até ao momento em
diversas ocasiões.
Paulo Portas
está de parabéns por ter corrido um enorme risco ao convidar uma jovem, embora
muito bem preparada academicamente, para tão árdua tarefa. Penso que ganhou a
parada. De fato, já o minucioso e bem elaborado resumo cuidadosamente preparado
por Joaquim Jorge ajudava a explicar o sucesso desta bonita mulher.
Com efeito,
Assunção Cristas dissertou sem ajuda de papéis o que o seu ministério fez neste
quase ano de governação com uma lógica meridiana e cartesiana articulação entre
tão diferentes, mas próximas áreas, como a agricultura, o mar, o ambiente e o
ordenamento do território.
Todos sabemos
que a ministra não é uma técnica do setor. Mas não há ninguém que seja um
especialista ao mesmo tempo nestas quatro áreas. Pois bem, Assunção Cristas
esteve à vontade e com grande segurança em todas elas e não teve o menor receio
de dizer exatamente isso, que não é uma técnica nessas áreas, mas sabe decidir,
depois de ouvir quem sabe. Mas também dá o seu precioso contributo técnico,
pois há muita legislação complexa na área do direito privado, sua
especialidade, a preparar.
Depois
respondeu a várias questões de Joaquim Jorge e dos
participantes que encheram a sala do Hotel Holliday Inn de Gaia, sempre com
segurança e clareza. O setor das águas não será privatizado, mas concessionado
por faixas territoriais, permitindo que empresas portuguesas se posicionem, o
que é bem diferente da privatização, dado o seu peso estratégico. Já o setor
dos resíduos será privatizado. O processo está em curso com o objetivo de
ganhar em eficácia, permitir o investimento necessário na substituição das
velhas redes de abastecimento ineficientes e aumentar a eficiência do setor dos
resíduos, que lidam cada vez mais com recursos.
Está atenta ao
setor agrícola, onde pretende ver mais jovens e conferir dignidade a quem
escolha o campo para viver e produzir. A floresta também é um dos setores de
grande importância para a economia nacional que terá ações concretas para
aumentar o seu peso no PIB. As pescas precisam de qualificação e capacitação
dos seus agentes e reconversão e modernização da frota. Diversos instrumentos
legais importantes, como o da avaliação dos impactos ambientais, entre outros,
serão apresentados em breve. Na sua ação prefere a discussão e participação
pública, razão porque, pese embora poder fazer aprovar os instrumentos legais em
Conselho de Ministros, envia-os para o Parlamento, potenciando a discussão
pública.
Depois de
terminado o debate não fugiu a questões que lhe quiseram colocar, sempre com
uma postura de elevado nível e com paciência para não deixar ninguém sem uma
palavra, nem que fosse de conforto (normais queixas que as pessoas fazem a
governantes sempre que possível).
Certamente que
não será por esta Ministra que o Governo falhará. Ela sabe o que quer, como
fazer e que caminho a tomar. Joaquim Jorge, mais uma vez está de parabéns pelo
seu “instinct killer” de identificar o melhor convidado(a) para cada momento. Uma
noite que valeu a pena.
Mário Russo
*escrito ao abrigo do novo AO