Miguel Mota |
No início foi a famigerada Reforma
Agrária, durante a ditadura comunista do PREC. Dela, ao fim de alguns anos, já
se tinha recuperado quase totalmente, embora algumas perdas fossem difíceis de
reparar.
Seguiu-se uma destruição de outro
tipo, degradando ou extinguindo, progressivamente, os serviços do Ministério da
Agricultura indispensáveis para o seu progresso. Esta destruição atingiu o
máximo de intensidade com o governo Sócrates e só foi travada pela actual
ministra. Até em factos que podem parecer insignificantes e a passarem
despercebidos do grande público, nada se descurou nessa destruição. Por
exemplo, quando se estava a formar o primeiro governo Guterres, o Prof. Daniel
Bessa estava indigitado para o cargo de Ministro do Comércio e Indústria.
Apareceu, depois como Ministro da Economia. Tive ocasião de denunciar o erro
desse nome, cerca de um mês depois da posse do governo, numa importante reunião
no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em que tinha estado o Prof.
Bessa que, no entanto, se ausentou no intervalo, antes do debate com a
assistência. Na minha intervenção, lamentando ele não estar presente, lembrei
que ele não era, na realidade, Ministro da Economia. Poderia ser Ministro de
Parte da Economia (comércio e indústria) pois, como se sabia da estrutura do
governo, uma outra parte da economia, a Agricultura e Pescas, era da
competência de outro ministro, ao tempo o meu colega e amigo Fernando Gomes da
Silva.
Todos os Primeiros Ministros e
Ministros do Comércio e Indústria desde então têm persistido no mesmo erro e,
como já em tempos escrevi, fica-se na dúvida de saber o que é que ensinam no
Quelhas, na Católica e noutras escolas famosas sobre o que é a economia.
Por mais de uma vez, com dados
estatísticos publicados, tenho chamado a atenção para o peso da agricultura na
economia portuguesa (e, por consequência, também nas finanças), muito maior do
que o que lhe é atribuído, por ignorância ou por ocultos propósitos.
No “Expresso” de 5-1-2013 temos
uma outra prova desse peso numa lista de “Os 40 melhores produtos feitos em Portugal”.
Embora ali não apareçam senão dois produtos directos da agricultura, os vinhos
e o azeite, penso que alguns outros, como as uvas de mesa e a pera Rocha, cuja
qualidade se impõe em mercados externos, ali deviam estar. Acontece que vários
outros produtos industriais que aparecem nessa lista têm como matéria prima
produtos da agricultura, como podemos ver:
Posição
2 – Papel e cartão
3 – Vinhos
5 – Pastas químicas de madeira
6 – Calçado com parte superior de couro
7 – Obras de cortiça
8 – Tomates preparados ou conservados
12 – Cervejas de malte
24 – Azeite de oliveira
27 – Cortiça aglomerada e suas obras
38 – Charutos, cigarrilhas e cigarros
Se, em vez da destruição verificada (apenas útil para os importadores de produtos agrícolas (que ganham milhões à custa da economia e das finanças de Portugal) a agricultura tivesse sido desenvolvida ao longo destes quase 40 anos, não seria necessário submeter a nação às ordens da troika e sofrer a austeridade que tanto tem degradado a vida de milhões de portugueses. E não deve ser esquecido que uma agricultura próspera e bem desenvolvida tem benéficos efeitos na indústria e no comércio, a montante e a jusante, o que também ajuda muito a economia e as finanças.