19/01/2013

O peso da Agricultura


Miguel Mota 
Durante algumas décadas após o 25 de Abril, os governos de Portugal tiveram sempre como uma das suas actividades a destruição da agricultura portuguesa, acções que muito contribuíram para a degradação da nossa economia e das nossas finanças.

No início foi a famigerada Reforma Agrária, durante a ditadura comunista do PREC. Dela, ao fim de alguns anos, já se tinha recuperado quase totalmente, embora algumas perdas fossem difíceis de reparar.

Seguiu-se uma destruição de outro tipo, degradando ou extinguindo, progressivamente, os serviços do Ministério da Agricultura indispensáveis para o seu progresso. Esta destruição atingiu o máximo de intensidade com o governo Sócrates e só foi travada pela actual ministra. Até em factos que podem parecer insignificantes e a passarem despercebidos do grande público, nada se descurou nessa destruição. Por exemplo, quando se estava a formar o primeiro governo Guterres, o Prof. Daniel Bessa estava indigitado para o cargo de Ministro do Comércio e Indústria. Apareceu, depois como Ministro da Economia. Tive ocasião de denunciar o erro desse nome, cerca de um mês depois da posse do governo, numa importante reunião no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em que tinha estado o Prof. Bessa que, no entanto, se ausentou no intervalo, antes do debate com a assistência. Na minha intervenção, lamentando ele não estar presente, lembrei que ele não era, na realidade, Ministro da Economia. Poderia ser Ministro de Parte da Economia (comércio e indústria) pois, como se sabia da estrutura do governo, uma outra parte da economia, a Agricultura e Pescas, era da competência de outro ministro, ao tempo o meu colega e amigo Fernando Gomes da Silva.

Todos os Primeiros Ministros e Ministros do Comércio e Indústria desde então têm persistido no mesmo erro e, como já em tempos escrevi, fica-se na dúvida de saber o que é que ensinam no Quelhas, na Católica e noutras escolas famosas sobre o que é a economia.

Por mais de uma vez, com dados estatísticos publicados, tenho chamado a atenção para o peso da agricultura na economia portuguesa (e, por consequência, também nas finanças), muito maior do que o que lhe é atribuído, por ignorância ou por ocultos propósitos.

No “Expresso” de 5-1-2013 temos uma outra prova desse peso numa lista de “Os 40 melhores produtos feitos em Portugal”. Embora ali não apareçam senão dois produtos directos da agricultura, os vinhos e o azeite, penso que alguns outros, como as uvas de mesa e a pera Rocha, cuja qualidade se impõe em mercados externos, ali deviam estar. Acontece que vários outros produtos industriais que aparecem nessa lista têm como matéria prima produtos da agricultura, como podemos ver:

Posição

    
    2 – Papel e cartão

    3 – Vinhos

    5 – Pastas químicas de madeira

    6 – Calçado com parte superior de couro

    7 – Obras de cortiça

    8 – Tomates preparados ou conservados

   12 – Cervejas de malte

   24 – Azeite de oliveira

   27 – Cortiça aglomerada e suas obras

   38 – Charutos, cigarrilhas e cigarros


Se, em vez da destruição verificada (apenas útil para os importadores de produtos agrícolas (que ganham milhões à custa da economia e das finanças de Portugal)  a agricultura tivesse sido desenvolvida ao longo destes quase 40 anos, não seria necessário submeter a nação às ordens da troika e sofrer a austeridade que tanto tem degradado a vida de milhões de portugueses. E não deve ser esquecido que uma agricultura próspera e bem desenvolvida tem benéficos efeitos na indústria e no comércio, a montante e a jusante, o que também ajuda muito a economia e as finanças.