25/04/2013

A Drenagem

Miguel Mota

Este ano de 2013 tem sido um ano chuvoso o que tem algumas vantagens mas também alguns problemas. O enriquecimento dos aquíferos e uma razoável distribuição das chuvas foram, duma maneira geral, benéficos para a agricultura. O enchimento das barragens – que estiveram algo desfalcadas nos últimos anos – é importante para o abastecimento de água às populações, para os regadios e para a produção de electricidade barata.

As cheias que ocorreram nalgumas zonas causaram prejuízos embora, nalgumas áreas de várzea também tenham tido a vantagem de depositar uma camada de bons elementos de solo, trazidos das zonas mais altas. Nas terras mal drenadas causaram encharcamento dos solos, geralmente prejudicial.

Ao longo de muitos anos e baseado nos estudos do saudoso Eng.º Agrónomo Sardinha de Oliveira, tenho chamado a atenção para a necessidade de drenar o solo, importante em toda a parte mas particularmente importante no Alentejo.

O Eng.º Sardinha de Oliveira mostrou que a produção cerealífera no Alentejo sofria mais nos anos muito chuvosos do que nos anos de média ou até baixa pluviosidade. O problema é grave nesta província porque aqui a primavera é geralmente muito curta e passa-se rapidamente da estação fria e chuvosa para a estação quente e seca. Num solo mal drenado os  cereais sofrem uma asfixia nas raízes, que as impede de crescer em profundidade e, quando vem o calor e a seca, não conseguem defender-se e a produção é escassa. Se o inverno for pouco chuvoso ou se o solo estiver bem drenado, de forma a fazer sair a água em excesso, as raízes desenvolvem-se em profundidade, o que lhes permite aproveitar a água que existe nessa parte do solo e defender-se muito melhor quando chega o tempo quente e seco. Os estudos do Eng.º Sardinha de Oliveira foram amplamente confirmados, ao logo de vários anos depois do seu falecimento, como relatei em diferentes escritos.

Por estas razões, é importante aplicar o sistema de drenagem mais apropriado para cada caso. Acredito que quando o Alentejo drenar convenientemente as terras para não haver os casos – que ainda são relativamente frequentes -  de searas em solos alagados, a média de produção de trigo subirá significativamente. Quando se puder resolver um outro problema em que tenho insistido, de encontrar melhores rotações de culturas – os meritórios estudos que existem são insuficientes – talvez o Alentejo volte a ser o celeiro de Portugal.