Miguel Mota |
“Se a Grécia, onde o sol abunda,
fosse capaz de produzir e exportar tomate tão eficientemente como a Holanda,
talvez não estivesse em tão má situação e podia ajudar a salvar a Europa”.
Esta frase também assenta como uma
luva em relação a Portugal. Tenho dito o mesmo variadas vezes. E note-se que o
tomate ainda é das culturas em que o país está menos atrasado e consegue
exportar uma razoável quantidade.
Não me admira nada o relato da
TIME. Há muitos anos aponto a excelência da agricultura da Holanda, fruto
principalmente duma investigação agronómica de alto nível, tanto nas
universidades como no Ministério da Agricultura. É uma lição que os nossos
ministros da Agricultura, infelizmente, não têm sido capazes de aprender. Vale
a pena referir uma história elucidativa.
Em 1993, num programa de televisão, Terça à noite, em que
se tratou da Agricultura, um antigo ministro dessa pasta declarou, enfática e
perentoriamente, que as nossas condições naturais não nos permitem competir e
deu como “prova” o facto da Holanda produzir 8 toneladas de trigo por hectare e
Portugal apenas 2 toneladas.
Como nenhum dos presentes soube
corrigir esse antigo ministro, publiquei no Expresso de 17 de Julho de 1993 um
artigo em que chamei a atenção para alguns pontos que alteravam completamente a
declaração. Lembrei que a Holanda produzia 8 T de trigo por hectare nessa
altura. Se recuasse uns 20 ou 30 anos só produzia 5 T e anos mais atrás apenas
3 T, SEMPRE COM AS MESMAS CONDIÇÕES NATURAIS. O que fez a diferença foi a sua excelente investigação
agronómica, a causa da constante inovação e dessa espectacular subida da
produtividade.
Portugal, nas últimas décadas, tem andado criminosamente a
destruir a sua agricultura, começando exactamente por destruir a sua
investigação agronómica. No citado artigo no Expresso lembrei uma frase do
ilustre Professor de Agronomia Engenheiro Agrónomo D. Luís de Castro, no Prefácio
do livro “A cultura do trigo”, editado em 1908:
"....poderia transformar a cultura
cerealífera em Portugal pela Ciência. É extraordinário, é fantástico, o susto,
o pavor ou a piedade que inspira entre nós, esta palavra aplicada à Agricultura!"
Ao longo de mais de um século, o
único Ministro da Agricultura que compreendeu a importância da ciência na agricultura
e fez a única boa reforma que deu um enorme avanço a este sector foi o Dr.
Rafael Duque, com a sua excelente legislação de 1936, que incluiu a criação da
Estação Agronómica Nacional. Essa reforma e o ter conseguido encontrar pessoas
com capacidade para a executar foi um enorme passo em frente, não só para a
agricultura e para a investigação agronómica, mas para a ciência portuguesa. O modelo
criado permitiu que outros sectores, utilizando-o, pudessem conseguir
excelentes progressos, o primeiro dos quais foi a criação do prestigiado
Laboratório Nacional de Engenharia Civil, que também tanto deu ao país e que
hoje é uma fracção do que já foi.
De então para cá apenas pequenos
remendos mal deitados e, depois do 25 de Abril, muitas acções de destruição.
Começou com a famigerada Reforma Agrária do PREC, que bastante destruiu. Depois
disso a destruição foi de outro tipo, talvez mais sofisticada e perniciosa,
atacando e demolindo os serviços do Ministério da Agricultura a quem cabe a
tarefa de promover a subida de nível da agricultura portuguesa. Exactamente o
contrário do que fizeram, ao longo dos anos, os Ministros da Agricultura da
Holanda. É imenso o que Portugal perdeu, em economia e finanças, como resultado
dessa destruição, encargo que não cai apenas sobre os agricultores mas sim,
pelos seus efeitos, sobre todos os portugueses, talvez com excepção dos
importadores de produtos agrícolas, que devem ter feito fabulosas fortunas à
custa da economia de todos nós. O máximo de destruição ocorreu durante o governo
PS de Sócrates, que chegou ao cúmulo de devolver a Bruxelas centenas de milhões
de euros destinados à agricultura. A actual ministra conseguiu travar essa
destruição e teve algumas acções meritórias que já se fizeram notar. Mas, na
minha modesta opinião, quase nada se fez na direcção que julgo necessária e que
teria sido possível iniciar logo no verão de 2011, há quase dois anos e de que
já se poderiam estar a colher alguns resultados. Tenho pena.